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O androide Brian foi criado e programado juntamente com sua família para conviverem entre os seres humanos que jamais poderiam saber se tratarem de meros robôs.
Na escola Brian conhece a jovem Tayli, uma garota introvertida e sempre triste com a vida. Os dois iniciam uma grande e linda amizade que mais tarde se transforma em amor.
A jovem Tayli não sabe que seu amado não é real, ela não sabe que ele é apenas uma máquina programada para fazer o que seus criadores desejarem. Até que o destino lhe apresentará caminhos ocultos e cheios de perigo.
Brian será o anjo que guardará sua amada.
O final dessa história é impressionante, o amor entre um robô e uma garota abre as portas para as maiores reflexões filosóficas.
O Projeto
Em 1970, um grupo de cientistas iniciou um projeto secreto para a construção de cinco robôs androides, com o objetivo de formar com eles uma família artificial, já que tinham a perfeita aparência humana, e assim inseri-los no convívio social. Possuíam em seu corpo mecânico órgãos com funções semelhantes aos órgãos reais. Este seria um teste para estudar a relação e convivência das pessoas reais com androides.
Cinquenta anos depois do início do projeto, esses perfeitos androides estavam prontos, tinham artificialmente todos os sentimentos e demonstravam todas as emoções, tais quais o fazem os seres humanos, junto com os quais viveriam. Passariam a morar em uma casa preparada especialmente para que habitassem tal qual uma família normal.
Eram perfeitos os cinco: dois androides com aparência de adultos representavam os pais, havia ainda dois androides adolescentes, um rapaz e uma moça, e por fim o androide mais novo, o caçula dos três filhos. Tudo neles era muito semelhante à espécie humana. Eles podiam até comer perante as outras pessoas e tomar banho normalmente. Afinal, para conviverem entre os meros mortais, esses robôs precisavam pelo menos fingir que comiam. Para eles também foram preparados empregos, carros, documentos, escola para as crianças e todas essas coisas que a vida humana exige.
Essa família passou a se chamar família Van Huffel.
Mas androides não envelhecem. Sendo assim, os cientis¬tas pretendiam deixar essa família no máximo dois anos em uma mesma cidade. E permaneceriam assim, como máqui¬nas nômades, até que seus donos dessem por concluída sua experiência.
É difícil explicar, mas esses robôs tinham consciência de que eram apenas máquinas, e não seres humanos. Seus cérebros positrônicos eram simplesmente perfeitos.
A Família Van Huffel
A família Van Huffel era monitorada 24 horas por dia. Havia câmeras espalhadas por toda a sua casa. Seus passos eram todos conhecidos por seus cientistas inventores. Em seus próprios corpos artificiais havia dispositivos radares para rastrear sua localização. E, ao contrário do que podia parecer, esse não era mais um reality show sensacionalista, era sim um grupo de cientistas manipulando a vida humana através da tecnologia. Seus criadores estavam prontos para qualquer resgate imediato em caso de algum incidente. Afinal, o ob¬jetivo deles era claro: inserir e observar esses androides na sociedade e analisar sua convivência com os seres humanos e o comportamento dos seres biológicos diante do que não parece ser mecânico.
Às oito horas da noite, a família Van Huffel estava ao redor da mesa esperando que Dona Lucy servisse o jantar: Edward, o pai; Junior, o caçula; Brian, o rapaz; e Mara, a moça. Cada um já tinha o seu destino decidido. As crianças foram matriculadas na escola da cidade. Lucy, como de praxe, fora programada para ser uma excelente dona de casa, e o patriarca da casa, senhor Edward, era um grande executivo de uma em¬presa com filial na cidade vizinha.
— Espero que todos gostem do cardápio de hoje! Eu fiz macarronada italiana! Tenho certeza de que todos aqui vão lamber os lábios! — Lucy disse, enquanto colocava a bandeja de macarrão na mesa.
Todos olharam animados para a macarronada, até sen¬tiam o gosto, imitação perfeita do paladar!
Depois do jantar, Lucy e Edward sempre beijavam e abraçavam os filhos com um sorriso e um desejo de boa noite. Nesse caso, a humanidade estava mais condicionada à atitude do que aos fatores biológicos.
Escola
Brian tinha uma vantagem especial na escola: devido ao seu incrível cérebro, ele podia gravar todo o conteúdo dos li¬vros. Assim, era o aluno nota dez da sala, e em todas as matérias! Mas um mortal comum não é perfeito. Mesmo os mais geniais têm os seus pequenos erros, uma questão de déci¬mos. Assim, de vez em quando, ele errava de propósito para que ninguém desconfiasse, é óbvio. Entretanto, suas notas nunca eram abaixo de 9 e 9,5.
Ele era um rapaz muito enturmado com os colegas. Sua genialidade não atrapalhava em nada seu relacionamento com todos ao seu redor. Em sua classe estudava Tayli, uma garota diferente das outras de sua idade. Ela vivia sempre sozinha aonde quer que fosse, era séria, afastada dos outros colegas. Na escola, quando não estava dentro da sala de aula, estava sentada no banco do pátio lendo um livro.
Apesar de já conviverem há algum tempo, Brian mal per¬cebia a presença de Tayli. Não era para menos: um rapaz com tanta influência e popularidade na escola realmente não no¬taria a ignorada presença de uma moça que fazia questão de ser ignorada. No entanto, tudo tem a sua hora de mudar. Em mais um dia daqueles em que os corredores estão bem mo¬vimentados, Tayli e Brian se esbarraram, fazendo com que os livros dela caíssem no chão.
— Oh! Desculpe, moça! Deixa que eu pego seus livros para você! — Brian disse, recolhendo os livros do chão.
Depois de ter seus livros de volta em mãos, ela agradeceu com voz desanimada:
— Obrigada, Brian.
Ela seguiu seu caminho e ele seguiu o dele. No dia seguinte, na hora do recreio, depois de tanto tempo, foi então que Brian percebeu que Tayli estivera sempre afastada, sozinha num canto. Por algo que talvez possamos chamar de instinto, ao vê-la ali sentada naquele banco lendo um livro, Brian sentiu vontade de estar ao lado dela. Sem pensar duas vezes, se aproximou e então se sentou ao lado de Tayli.
— Sempre sozinha nesse canto, Tayli! Por que não se jun¬ta a seus colegas? Venha comigo, vou enturmá-la! — ele convidou-a, sorrindo.
— O que é isso, Brian? Durante meses você sempre pas¬sou por mim aqui nesse mesmo canto e nunca me disse nem mesmo um oi. Que interesse repentino é esse na minha soli¬dão? Sou tão diferente de todos, não temos nada em comum, já houve até quem me dissesse que eu não sou gente de verdade! Eu sem¬pre fui assim e é assim que eu prefiro estar! Aproveito o tem¬po livre para aprender lendo os meus livros. Os outros acham que o que eu digo é loucura! — ela respondeu-lhe.
— E o que você diz? — ele perguntou-lhe.
— Aí é que está o mais estranho! Eu quase não digo nada! Sabe, agora acho você mais estranho do que eu — ela salientou.
— E por que acha isso?
— Ora, Brian, você é a primeira pessoa que fala comigo por livre e espontânea vontade, e também o único a ser gentil comigo até agora. Se eu tivesse esbarrado em outra pessoa, com certeza seria xingada. Então me conte, qual é o seu se¬gredo para tirar nota dez em quase todas as provas? — Tayli o questionou, curiosa.
— Tayli, isso é muito simples: eu tenho um cérebro positrô… — ele interrompeu a frase, percebendo a gafe.
— Você tem o quê? Eu ouvi você dizer que tem um cérebro positro-alguma-coisa!
— Oh, não, Tayli! Eu quis dizer que meu cérebro é como se fosse eletrônico. Eu sou um gênio, esqueceu-se? — ele gabou-se.
— Ah, sei! Seu QI é maior que o de Einstein! — reconheceu, irônica.
Esse foi apenas o início de uma intensa amizade que se iniciou entre esses dois jovens cheios de expectativas para o futuro. Nos dias que se seguiram, Tayli continuou sentada no banco do pátio sempre lendo seu livro, com a diferença de que agora ela tinha uma companhia: Brian. Dos outros colegas ela não conseguiu se aproximar, mas dele sim, talvez porque os outros não a compreendessem tanto quanto Brian a compreendia.
Amigo Robô
Um dos milagres de sua nova amizade foi o fato de que, antes, Tayli só saía de casa para ir à escola ou então ao museu e planetários. Dessa vez ela aceitou algo menos formal: saiu com Brian para o shopping center e depois foram até o cinema. Obviamente ela continuava a preferir seus museus e passeios educativos, mas eles revezavam, afinal, quando se está com quem se gosta, todo lugar é divertido.
Entretanto, no meio dessa história toda, algo muito preo¬cupante estava acontecendo. Há muito tempo um grupo rival de cientistas investigava o projeto secreto de construção dos androides, de modo que armaram todas as estratégias para descobrir onde essas cópias artificiais de seres humanos seriam colocadas, com o objetivo de capturá-las e constatar como essas perfeições mecânicas funcionavam e, claro, fazer muitas outras delas.
Por fim encontraram a cidade onde talvez essa família de máquinas estivesse vivendo. Tiveram que observar por muito tempo os habitantes da cidade até localizá-los, porém teriam um problema: por serem tão parecidos com seres humanos, como saberiam diferenciar quem eram as máquinas e quem eram os pobres mortais?
No final das contas, concluíram que seria simples identificar essa família de androides, pois, em seu entendimento, os robôs não tinham sentimento e, com certeza, deveriam ter um comportamento estranho e diferente dos demais à sua volta. Assim, no andar de suas investi¬gações, principalmente nas escolas, desconfiaram de que Tayli seria um dos androides. Por vários meses a investigavam na escola, seguiam-na, e suspeitavam que toda sua família fosse de metal. Isso se devia ao fato de a considerarem estranha e diferente dos demais a seu redor, realmente a única a ter tais comportamentos.
Jamila Mafra
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