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Foto do escritorMafra Editions

O Passageiro das Estrelas. Scifi 21. Ficção Científica. Parte 01, 02 e 03


Brianna é uma moça solitária e desiludida. Depois de se tornar órfã recebe a triste notícia de que sofre com uma terrível doença.

Mas em meio a uma vida conturbada algo de extraordinário acontece!Em uma noite de céu estrelado, na areia da praia, Brianna avista a queda de uma nave espacial.

Ela conhece o astronauta intergaláctico Agon, o passageiro das estrelas que chega por acaso para dar amor e consolo a essa jovem tão sozinha.

Juntos Brianna e Agon vivem grandes experiências na Terra, mas enfrentarão muitos obstáculos.

O passageiro das estrelas descobrirá o amor onde menos imaginava e sua amada sentirá que pertence para sempre ao infinito do universo.


Parte 01

VERDADES


Brianna era moça séria, calada e sem amigos. Com seus dezessete anos, ela sentia dentro de si uma angústia e uma solidão inexplicáveis. Era um vazio sem sentido, ou talvez esse sentido fosse apenas existencial.


E devido a esse sentimento que a razão é incapaz de explicar, Brianna era uma garota incompreendida pelas pessoas ao seu redor. Nos primeiros anos de sua adolescência, os amigos de seus pais chegaram a lhe sugerir um psiquiatra. Ela era filha única, o que aumentava ainda mais sua condição solitária. E pensava consigo mesma: “Ninguém mais nesse mundo pode ser diferente que já é chamado de louco!”. Mas, bem no fundo de sua consciência, a opinião dos outros não lhe servia para nada.


A vida não poderia ter sido mais irônica e cruel com essa moça. Algo que mudaria a sua vida para sempre estava prestes a acontecer.


Sábado à tarde ela estava sozinha em casa, apenas na companhia de sua empregada Cristina. Seus queridos pais haviam feito uma rápida viagem de fim de semana à casa da tia Susan, no estado vizinho. Brianna não havia ido nessa viagem porque, como de costume, ela não era dada ao convívio com as pessoas, nem mesmo com seus familiares.


O telefone tocou. Cristina atendeu. A notícia não poderia ser pior.


Lágrimas de dor correram pelos olhos de Brianna naquele momento de mais pura amargura. Cristina não tinha forças para dizer mais nada. O telefone permaneceu caído no chão, enquanto as duas, ali naquela cozinha, não tiveram alternativa a não ser se abraçarem e partilhar da mesma dor.


Qualquer um que visse a cena estaria curioso pra saber o que havia acontecido de tão pavoroso.


Os pais de Brianna voltavam para casa quando um motorista bêbado entrou na contramão e se chocou contra o carro deles. Os três morreram, as vítimas e o criminoso.


Agora essa moça já desiludida com o seu destino era uma órfã sem vontade de viver.


Aparentemente os acontecimentos já haviam sido muito cruéis para essa pobre órfã. No entanto, sua vida parecia mesmo fadada ao fracasso. Acredite quem quiser: alguns meses depois da morte de seus pais, ela começou a sentir-se muito mal.


No início de tudo suspeitou-se de uma depressão profunda causada provavelmente pela perda dos pais, suspeita essa levantada pelos próprios familiares, mas depois as coisas pioraram cada vez mais.


Sua fraqueza se tornou intensa e os desmaios constantes. Até que, sem mais escolhas, sua nova mãe e tutora Cristina levou-a ao médico. Os exames foram muitos. E a aflição ocasionada pela espera da verdade também.


Parte 02

ANGÚSTIA


No consultório médico os olhos de Cristina e Brianna se voltaram atentos para a face do doutor que analisava minuciosamente o resultado dos exames. Ao levantar a cabeça, ele olhou profundamente nos olhos da paciente.


— Então, doutor Lynn, o que eu tenho? Qual é a minha doença? – A paciente questionou-o.


A resposta do médico fora apavorante. Suas palavras foram como uma facada intensa no coração da jovem e da mulher que estavam em seu consultório. E, como numa repetição da cena do dia do acidente, as duas novamente se abraçaram.


Naquele instante de agonia, não menos intensa do que outrora, Brianna pôde sentir outra vez o afeto maternal, só que dessa vez vindo daquela que um dia foi apenas sua empregada.


Leucemia era o diagnóstico. Não poderia haver doença mais trivial e clichê mais real para a vida de uma pessoa quanto este.


Os primeiros meses de quimioterapia foram dolorosos. Devido à queda de seus cabelos, ela passou a usar um lenço na cabeça. A beleza de seus olhos verdes não foi capaz de ocultar a amargura transparente em sua face. Cristina lhe dava todo apoio e amor verdadeiros. Seus familiares também lhe prestavam alguma ajuda e aos poucos Brianna passou a sentir o quanto era bom ter consigo as pessoas ao seu redor.


Durante um período de pausa nas quimioterapias ela sugeriu:


— Cristina, pensei muito e decidi passar um tempo na casa de praia, até a próxima fase do tratamento. Acredito que uns dias perto da natureza me fará bem!


— Mas é claro! Uns dias na casa de praia lhe farão muito bem. Seguindo todas as recomendações e cuidados médicos, isso será ótimo! Podemos ir amanhã mesmo. O que acha? – ela perguntou.


— Sim, podemos ir amanhã – disse Brianna, sorrindo como raramente fazia durante aquele período.


Ela herdou a casa de praia de seus pais. Era uma casa linda. Mais adiante havia uma estrada que dava acesso às rodovias do país. Um detalhe peculiar era que sua casa era a única naquele espaço de quinhentos metros. Mais adiante havia outras casas, também longes uma da outra. A praia era paradisíaca e deserta; recebia turistas apenas no verão. Naquele inverno ela estava vazia e sossegada, livre para Brianna contemplar sua paz.


Cristina e Brianna chegaram tranquilas na casa de praia. Cristina dirigia muito bem, havia aprendido depois de ganhar a tutela da jovem órfã, e também devido à necessidade de estar sempre a levando ao médico.


Não fosse pela sua doença e pela tristeza ainda presente causada pela morte de seus pais, Brianna estaria em um verdadeiro estado de paraíso. Ela passava horas de suas noites sentada na areia da praia, meditando sobre sua vida e sobre quais seriam talvez seus planos para o futuro. Às vezes permanecia lá até de madrugada. Sozinha em seus pensamentos, ela sentia a brisa e o barulho das ondas do mar como se fossem uma canção para acalmar e relaxar seus ouvidos. Durante aquelas noites contemplando as estrelas no céu sobre o oceano, sentia-se menos solitária do que quando estava com qualquer outra pessoa. As estrelas eram sua melhor companhia.


Parte 03

NOITE NA PRAIA


Em uma daquelas noites sentada à beira-mar, Brianna conversava consigo mesma em pensamento e se perguntava, diante de toda aquela paisagem, como era possível existir toda aquela beleza no universo em contraste com as farpas ardentes e pontiagudas que destroem a alma dos seres mortais. Em seu caso, as farpas eram a doença e a morte. E a crucial curiosidade que mais cedo ou mais tarde domina a mente de todo ser humano se apossou de sua alma. Então mais uma vez ela se questionou: “O que realmente existe além de todo o universo?”


Ao mesmo tempo em que desejava saber a resposta, ela percebia o quanto era pequena a sua condição, pois de que adiantaria ter a resposta para essa sua pergunta se ela nem ao menos sabia qual era e se realmente alcançaria a cura eficaz para a sua doença?


Muitas vezes percebemos que é no momento mais improvável e no lugar mais imprevisto que as grandes coisas acontecem. E foi exatamente em certa hora da madrugada, enquanto Brianna contemplava o mar e as estrelas, que ela viu um feixe de luz vindo do céu e ouviu um estrondo de algo que caiu bem no meio da areia.


De fato, ela não fazia a menor ideia do que era aquilo.


Um pouco assustada, ela se aproximou do objeto caído no meio da areia. Ao redor dele havia fumaça. Pelo silêncio que permanecia ao redor depois da queda, parecia que ninguém mais havia escutado aquilo a não ser ela mesma.


Aos poucos a fumaça se dissipava e os olhos verdes de Brianna arregalaram de espanto ao ver o que estava diante dela. Chegou a supor que fosse apenas um sonho.


Bem diante daquela moça, que ainda há pouco questionara a existência, havia algo que sem dúvida era uma nave espacial. Não era grande, media mais ou menos oito metros de diâmetro, era circular, prateada e ao seu lado havia um homem caído. Ele estava vestido como um astronauta, sua roupa era um misto de branco e prateado. Parecia estar desmaiado devido à queda que sofreu. Seu capacete era perfeitamente compatível com o formato da cabeça, a fronte era um tipo de vidro transparente, e assim era possível ver seu rosto. Luvas e botas também faziam parte de sua vestimenta.


Ainda sem saber direito o que faria, Brianna se ajoelhou diante dele e o observou. Em um ímpeto de coragem, mas também nem tão segura, retirou o capacete dele. Depois de vislumbrar seu rosto exclamou:


— Oh céus! É um homem! Ele caiu com a nave aqui na praia! Mas o que significa isso?


Em perfeita confusão mental, Brianna não soube o que fazer, permaneceu apenas observando aquele ser e aquela máquina voadora. Depois de alguns minutos, o mais intrigante aconteceu: aquele homem aos poucos foi recobrando a consciência, até que abriu os olhos. Ele pôde sentir sua cabeça sem o capacete, encostada na areia.


— Você está bem? – ela perguntou.


O homem, por sua vez, ergueu-se. Já sentado, questionou, observando tudo ao redor:


— Onde estou?


— Oh! Então você me entende!


— Sim, entendo!


— Achei que fosse um astronauta de alguma agência espacial americana ou quem sabe de outro mundo. Temi que não compreendesse meu idioma.


— Sim, mas onde estou? – Estava confuso.


— Onde deveria estar, astronauta? Bom, aqui, como pode ver, é uma praia. Você está no litoral do país – ela respondeu.


— Oh não! Caí no lugar errado! Eu quero saber que planeta é esse? – ele questionou, dessa vez mais assustado.


— Ora! Mas o que está me perguntando? Aqui é o planeta Terra. Que outro planeta poderia ser? É o nosso planeta Terra! E, pra ser mais exata, ano 2004 d.C.!


— Isso não pode ser verdade! Acabo de sair do planeta Terra e o ano lá era o 3000! Ou melhor, pode ser sim... Eu bem sei disso. Acasos do multiverso.


— Bom, acho que não estamos nos entendendo. Você deve ter perdido a memória quando bateu a cabeça. Mas, enfim, quem é você, de onde veio e para onde pretendia ir?


— Meu nome é Agon. Tenho quase certeza de que venho de outro planeta Terra, mas do ano 3000 depois do grande sacrifício!


— Que história é essa de “depois do grande sacrifício”? Você quis dizer depois de Cristo? Espera aí, está me dizendo que você é um extraterrestre? Mal posso acreditar no que está acontecendo!


Agon entrou na cabine da nave para constatar o estrago. A porta estava aberta. Continuaram o diálogo depois que ele verificou tudo:


— Eu saí de meu planeta para uma missão espacial em um planeta não tão longe do meu, quando, de repente, houve um incidente espaço-temporal, perdi o controle da nave e caí aqui. Com certeza, devido à alta velocidade, devo ter entrado em um buraco de minhoca ou então rompido a barreira dimensional que separa os universos – Agon explicou a ela.


— Você fala isso com tanta naturalidade, como se isso fosse comum acontecer! Não está assustado? – ela exclamou, espantada.


— Não, garota, eu não estou assustado nem um pouco! Até porque esse é um fato óbvio. Diante da existência, tudo é possível. Essa é a primeira verdade que nós astronautas aprendemos em meu planeta. Porém devemos estar sempre atentos, pois embora nossos planetas sejam muito semelhantes, são planetas distintos, cada um com a sua própria história, tempo e pessoas – explicou-lhe.


— E agora, o que pretende fazer?


— Agora preciso de sorte e de tempo para consertar essa nave. Precisarei de sua ajuda. Qual é o seu nome?


— Meu nome é Brianna. E ficarei feliz em ajudá-lo. É incrível! Se veio de outro planeta, como podemos falar o mesmo idioma?


— Uma simples coincidência que pode ser perfeitamente explicada pela probabilidade matemática existente no multiverso.


— Está certo. Precisamos esconder essa nave para que ninguém a veja. Mais adiante está a minha casa, onde há um galpão enorme. Podemos guardar a nave lá. Espero que você consiga conduzi-la até lá sozinho, pois estou muito fraca devido a uma terrível doença – ela justificou-se.


— Não se preocupe, eu posso conduzir a nave sozinho. Ela não parou completamente de funcionar; pelo que verifiquei, apenas não atinge mais a velocidade da luz. Se eu não consertar isso não volto para casa – tranquilizou-a.


Aquela madrugada foi longa. Brianna contou a Agon tudo o que havia acontecido em sua vida até aquele momento. Ali mesmo ela pensou em uma desculpa convincente para que Cristina permitisse que Agon ficasse na casa da praia por alguns dias. A jovem diria que ele era um amigo que ela havia conhecido no hospital e que lhe havia oferecido muita amizade.


Cristina só estranharia talvez o fato de Brianna nunca ter falado sobre esse tal amigo.


Mas, antes de os dois se dirigirem até os quartos para terem o sagrado descanso, já dentro do galpão, curiosa, Brianna questionou o astronauta a respeito da nave na velocidade da luz. Como seria esse tipo de locomoção? Com um belo sorriso ele respondeu:


— O segredo da nave na velocidade da luz está no motor. Veja com seus próprios olhos.


— Parece um cilindro!


— Sim, é apenas um pequeno cilindro. E nele está concentrada energia atômica. Os átomos armazenados aqui provêm de elementos químicos feitos nos laboratórios lá no ano 3000. O próprio motor renova essa energia de modo que ela não se esgote por um bom tempo.


— Isso é incrível! – exclamou, fascinada.


Ela fechou o galpão e guardou a chave consigo. Dormiu o máximo que pôde. O astronauta dormiu no quarto de hóspedes.


Quando ela acordou no amanhecer de mais um novo dia, chegou a pensar que tudo havia sido apenas um sonho, mas, ao entrar no quarto de hóspedes, lá estava ele, Agon!


Não foi muito fácil explicar tudo à Cristina, que acabou concordando em hospedar Agon ali, porém apenas por alguns dias. Por sorte lá havia algumas roupas que foram de seu pai, e ela emprestou-as ao astronauta, que passava os dias na garagem a tentar consertar sua espaçonave.


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